Uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP resultou em um método preliminar para identificar cocaína. A técnica utiliza recursos eletroquímicos e será útil na área de perícia policial. “O objetivo é oferecer uma metodologia mais específica para o teste preliminar de cocaína apreendida pela polícia, já que o teste atual é colorimétrico e oferece uma grande gama de resultados falso positivos”, diz a química Natália Biziak de Figueiredo, autora do trabalho.
Natália explica que o teste colorimétrico usa uma solução da substância química tiocianato de cobalto, a qual, ao reagir com a cocaína, a torna azul. O problema desse método é que ele também torna outras substâncias azuis, como a procaína, a heroína e a lidocaína, comumente utilizadas na composição da cocaína como adulterantes.
Desse modo, a pesquisa de Natália procurou providenciar uma forma mais eficaz de distinguir a cocaína de outras substâncias. Orientada pelo professor Marcelo Firmino de Oliveira, do Departamento de Química da FFCLRP, Natália criou, em sua dissertação de mestrado, dois eletrodos que funcionam em uma célula eletroquímica. Nela se mede o potencial elétrico para uma certa substância química. “Uma das vantagens desse método é que cada substância gera um potencial específico, facilitando a distinção da cocaína”, comenta.
Além disso, a medição do potencial independe da quantidade de cocaína e de outras substâncias que estejam misturadas com ela. “No método colorimétrico, muitas vezes não se consegue prender quem mistura a cocaína com outros materiais, como a própria farinha de trigo. Há casos em que o amido mascara a droga e se tiver pouca cocaína, o amido pode camuflá-la”, diz a pesquisadora.
Vantagens
Natália também destaca que o método criado no estudo se mostrou tão eficiente quanto a técnica mais avançada utilizada pela polícia, a cromatografia líquida. Esta técnica é usada em testes finais e envolve uma série de etapas de preparação da amostra.
De acordo com a química, o problema deste processo é que ele é complexo e caro, pois exige grandes volumes de solventes. “A cromatografia pode chegar a usar 4 litros (L), enquanto o método eletroquímico usa em torno de 4ml (mililitros)”, e acrescenta: “A técnica eletroquímica é de mais baixo custo, já que utiliza menos solventes, é mais simples de ser executada e obtém o resultado de forma mais rápida, chegando a ser 5 vezes mais rápido que a cromatografia líquida”.
Apesar de sua eficiência, o método ainda não está completo, pois ainda é preciso realizar mais testes de validação com a nova técnica. “Serão necessários mais estudos para ver se outros fatores como temperatura e pH [medida química que indica se uma solução é ácida, neutra ou básica] interferem nos resultados. A ideia é que seja usado futuramente pela polícia científica”, relata Natália.
Célula eletroquímica
Para o funcionamento do método, são usados três eletrodos, um solvente para diluir a cocaína ou outra substância em estudo (como a lidocaína e a procaína) e uma célula eletroquímica. Dos três eletrodos, um interage diretamente com a cocaína e os outros dois completam o circuito da célula eletroquímica. Houve a composição de dois eletrodos que trabalham com a droga, sendo um deles recoberto por um filme de hexacianoferrato de cobalto e o outro, modificado com um Salcn de níquel. Tudo no final é ligado a um equipamento que mede o potencial elétrico na qual a corrente é gerada.
Na célula, a cocaína sofre uma reação eletroquímica com o eletrodo de trabalho, gerando uma corrente elétrica. Essa corrente é medida pelo aparelho, que identifica o potencial elétrico da cocaína e de outras substâncias que participaram da reação.
Retirado de :
http://www.usp.br/agen/?p=31459
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